Depois de um dia todo caminhando ou escalando, nada melhor do que uma comida quente para recuperar as energias. Ou numa noite fria na montanha, um chá quente pra aquecer o corpo e a alma, não é mesmo? Para isso, um fogareiro eficiente é fundamental. Apesar de não serem caros, para quem está começando a fazer trilhas e tem o orçamento apertado, os preços podem ser um pouco intimidadores. O que muita gente não sabe é que é perfeitamente possível fazer o seu próprio fogareiro com custo zero ou, no máximo, alguns reais, a partir de latas de refrigerante ou cerveja. Fogareiros feitos com latas são ótimas opções para quem acampa, pois além da economia na fabricação, elimina a necessidade de compra de botijões e não geram o descarte de botijões de gás vazios, reduzindo a pegada ambiental.
Quando comecei no mundo das trilhas meu primeiro fogareiro era uma lata de atum com álcool combustível. Simples, não muito eficiente, mas suficiente para esquentar o bom e velho miojo. Depois que o paladar ficou um pouco mais exigente (e passei a entender que miojo não é uma boa opção), acabei migrando para os fogareiros à gás. Entretanto sempre me incomodei com o descarte e com os preços dos botijões vazios.
Há um tempo atrás, com tempo livre e na falta do que fazer durante as semanas, resolvi empreender uns testes com fogareiros de latinha , trazendo ao plano material todas as ideias e perguntas advindas de leituras e vídeos na internet. Abaixo segue um relato dos testes e resultados observados. Este texto será atualizado à medida que outros modelos sejam testados.
Materiais e métodos
Basicamente comparei dois modelos de fácil montagem e que necessitam somente latinhas, estilete, tesoura, prego e compasso para sua construção: Tetkoba Capillary Hoop (TCH), e o tradicional Soda Can Stove (SCS), neste, variando a largura da abertura superior entre 32, 35 e 45 mm. Foram comparados os tempos de ignição, fervura e duração da chama (chamaremos aqui de ignição o momento em que todos os furos estão acesos e formem uma chama única maior). O TCH e SCS 32 mm foram feitos com latas de refrigerante 310 ml e os SCS 35 e 45mm com latas de Eisenbahn 350 ml amarela. Foram comparados dois SCS 35mm, um com sulcos internos e outros sem. Os testes foram realizados em casa, em Brasília (altitude média de 1000m, temperatura à noite próxima de 15ºC) fervendo 300ml de água, usando aproximadamente 30 ml de álcool combustível.
Também foram confeccionados suportes de panela a partir de raios de bicicleta de aço usados, obtidos em uma bicicletaria. Os aros foram moldados na forma desejada utilizando alicate e unidos com arame de grampo de papel.

Resultados e observações
- Latas de Eisenbahn 350 ml amarelas são mais resistentes e melhores de se trabalhar, ao contrário das de refrigerante;
- No Soda Can Stove, não houve diferença significativa entre 45 e 35 mm. Já o de 32 mm demorou mais para ignição sozinho (1,5 min a mais) e durou aproximadamente 2 minutos a mais que os de 35 e 45 mm;
- O modelo genérico de Tetkoba Capillary Hoop apresentou o menor tempo de ignição, mas demorou alguns minutos a mais para ferver água. Sem panela foi a segunda chama mais duradoura; com panela a chama durou quase 3 minutos a menos que os demais;
- O tempo de duração total da chama é maior com a panela acima do fogareiro, exceto no Tetkoba, que foi 2 segundos menor;
- No Soda Can Stove, o modelo de 35 mm com sulcos (apenas riscos com um prego) na parte apresentou ignição mais rápida que o modelo de 35 mm sem sulcos;
- O suporte de panela feito com 2 raios de roda de bicicleta unidos por 2 clips suportou 500 ml;
- O peso total do kit (fogareiro+suporte) aferido em balança de mesa foi de 25 g para o SCS e de 30 g para o TCH
Resumo dos modelos e tempos:
1) SODA CAN STOVE 32 mm
– Ignição: 4′ (3′ assoprando)
– Duração total s/ panela: 15′ 4″
– Duração total c/ panela: 14′ 20″
– Tempo de fervura: 5′ 18″
2) SODA CAN STOVE 35 mm
– Ignição: 1’40”
– Duração total s/ panela: 7’20”
– Duração total c/ panela: 12’49”
– Tempo de fervura: 5’20”
3) SODA CAN STOVE 45 mm
– Ignição: 0’45” a 1’30”
– Duração total s/ panela: 6’25”
– Duração total c/ panela: 12’54”
– Tempo de fervura: 4’50”
4) “TETKOBA´s CAPILLARY HOOP”
– Ignição: 0’20”
– Duração total s/ panela: 12’50”
– Duração total c/ panela: 10’25”
– Tempo de fervura: 6’25”



Considerações finais
Considerando os tempos de ignição, fervura e duração da chama, as melhores performances foram do Soda Can Stove 45mm e do Tetkoba Capillary Hoop. Importante ressaltar que o TCH se feito usando latas de Redbull e ferramentas mais adequadas, de acordo com o tutorial original, deve apresentar uma performance superior, conforme relatos de outros usuários em grupos de discussão. Entretanto a confecção do tradicional Soda Can Stove é mais simples, rápida e exige menos ferramentas e habilidades. A adição dos sulcos no SCS acelerou a ignição e deve ser incorporada. Qualquer que seja sua escolha, com apenas 30 ml de álcool você consegue fazer uma polenta, um ou macarrão, e com 50 ml você faz um belo Arroz Carreteiro ou Arroz à Grega da Tio João.
Há outros modelos de fogareiros a partir de latas que são amplamente utilizados mundo afora e que serão testados em breve. Um aspecto vantajoso dos fogareiros a álcool é que não é necessário comprar gás e descartar botijões vazios, bastando comprar um galão de 5L e encher no posto, e quando for para a trilha, levar somente a quantidade necessária. Em contrapartida, a chama de fogareiros a álcool é mais suscetível ao vento se comparada aos fogareiros a gás, prejudicando o rendimento. Nesse caso, recomenda-se a utilização de um protetor de vento (wind screen ou wind shield), que pode ser fabricado em casa com papelão e papel alumínio.