Guia para a Travessia das Sete Quedas

A primeira trilha com pernoite do Parque Nacional (PARNA) da Chapada dos Veadeiros, uma das poucas trilhas com pernoite oficiais e sinalizadas da região e uma das primeiras experiências de trilha com pernoite de grande parte dos trilheiros de Brasília e Goiás. Aberta ao público em 2013, a Travessia das Sete Quedas é sem dúvida um ícone do trekking do Planalto Central, também pela beleza das paisagens que recorta. Uma aula prática perfeita para se conhecer várias das formações do Cerrado, como cerrado strictu censu, campos, veredas e cerrado rupestre.

Com 23 km de extensão, pode ser percorrida em dois dias com pernoite, ou em apenas um dia para os mais preparados ou apressados. A sinalização excelente, pouca variação altimétrica, poços para banho e ótima área de camping que inclui um banheiro seco são confortos que se contrapõem ao calor intenso, exposição constante ao forte sol do Cerrado e à longa distância a ser percorrida no primeiro dia. O PARNA Chapada dos Veadeiros a classifica como “Muito pesada” e os mais experientes como “Moderada”.

Ficha Resumo

  • Cidade-base: Vila de São Jorge / Alto Paraíso de Goiás (GO)
  • Extensão: 23 km (ida)
  • Tipo: Travessia
  • Duração: dois dias com pernoite ou um dia;
  • Navegação: Fácil, Sinalizada. Seguir as setas vermelhas até o Cânion 1 e depois as setas laranjas.
  • Severidade do meio: Moderada-Alta
  • Esforço físico: Moderado
  • Tipo de terreno/ambiente: terreno pedregoso, exposição ao sol, pedras escorregadias especialmente nas cachoeiras, travessias de rio.
  • Custos: Camping R$ 19,00; Ingresso: R$ 4 a 36 (Estrangeiros: R$ 36,00; Estrangeiros Mercosul: R$ 27,00; Brasileiros: R$ 18,00; Moradores do Entorno: R$ 4,00)
  • Aviso prévio/Reservas: Sim, online pelo Ecobooking
  • Obrigatoriedade de guia: Não
  • Melhor época: a trilha abre geralmente em fins de maio, até final de outubro. Os melhores meses são junho a início de agosto, quando as chuvas cessam e o ambiente está mais fresco e verde. A trilha permanece fechada na época das chuvas (novembro a maio), no entanto, poderá ser fechada pela administração do Parque a qualquer tempo, sem aviso prévio, se o nível do Rio Preto subir, por ocorrência de incêndio florestal ou por quaisquer outras situações extraordinárias que justifiquem o fechamento da trilha.
  • Acesso: A trilha tem início no Centro de Visitantes do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, na Vila de São Jorge, distrito de Alto Paraíso de Goiás.
  • Rodoviária mais próxima: Alto Paraíso de Goiás
  • Aeroporto mais próximo: Aeroporto Internacional de Brasília – Presidente Juscelino Kubitschek (BSB)

A Travessia em detalhes

Antes da trilha

Para percorrer a Travessia das Sete Quedas é necessário fazer e pagar a sua reserva através do sistema Ecobooking. Por ser uma das poucas trilhas com pernoite autorizadas e manejadas na região, a concorrência é enorme e as vagas para finais de semana esgotam rapidamente. Portanto, a primeira dica é: se você pretende percorrer em um final de semana, defina uma data e acompanhe no Ecobooking e canais de comunicação do PARNA Chapada dos Veadeiros para saber o dia a partir do qual poderão ser feitas as reservas. Assim que abrir, faça a sua e de seu grupo imediatamente. Até 2019 cada pessoa poderia reservar até 4 vagas. Tenha em mãos nome completo, endereço, e-mail, CPF, RG, data de nascimento e contato de emergência de todas as pessoas para as quais fará a reserva.

A segunda dica pré-trilha é: combine o serviço de transporte com algum guia ou operador local ou prepare-se para tentar uma carona na beira da pista para o final da travessia. A trilha termina na margem da rodovia GO-239 (Coordenadas  14°8.022’S 47°43.675’O), a 12 km de São Jorge e 24 km de Alto Paraíso. No ponto final não há estruturas de apoio e não há serviço de transporte do Parque ou linha de ônibus regular entre Alto e São Jorge. O serviço de transporte não é caro, é eficiente, não depende da sorte e ainda contribui para a economia local. Mas se mesmo assim você preferir tentar uma carona, esteja ciente de que não há sombras no local.

Geralmente opta-se por pernoitar em São Jorge ou Alto Paraíso no dia anterior à trilha. Entretanto, é possível sair de Brasília na madrugada do primeiro dia. Considere começar a trilha até às 9h e que a viagem até a Vila de São Jorge, distante 270 km de Brasília, pode levar até 3h30min. É perfeitamente possível ir caminhando da Vila até o Parque, mas você pode negociar com seu prestador de serviço de transporte para levá-lo até lá. Em São Jorge geralmente fico no Camping Kalabura ou no Hostel Casa da Sucupira e fecho o transporte com o Diogo, que inclusive faz o transporte para grupos maiores (ver contatos no final do post).

Primeiro dia (Centro de Visitantes-Sete Quedas ; 17 km ; 7-8h)

A trilha tem seu início no Centro de Visitantes do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, na Vila de São Jorge, distrito de Alto Paraíso de Goiás e o acesso pode ser feito a partir das 7h. Além do pagamento do ingresso é necessário apresentar documento de identificação, voucher e comprovante de pagamento, assinar um formulário e retirar o cartão com número de identificação do grupo. Este cartão deverá ser depositado no coletor localizado no final da travessia. Os visitantes devemo assistir um vídeo com informações sobre segurança e conduta consciente.

Deixando o Centro de visitantes segue-se pela mesma trilha dos Cânions, sinalizada com setas vermelhas. Pouco antes de chegar ao Cânion 2, existe a bifurcação para o Cânion 1. A travessia segue à direita nesta bifurcação, no sentido do Cânion 1, ainda em setas vermelhas. São pouco mais de 4 km até o Cânion 1, que é ótimo para banho e onde é possível abastecer de água. A partir daqui a trilha é sinalizada com setas laranja. 2,7 km depois do Cânion 1 (Na marca de 7,3 km da travessia) há uma curva de rio ótima para banho e com alguma sombra na margem, configurando um bom ponto para almoço. Cerca de 700m adiante chega-se a primeira travessia do Rio Preto onde deverá cruzar a diagonal formada pelos dois postes laranja, um em cada lado da margem. Este é o último ponto de água até o acampamento, portanto certifique-se de que possui água suficiente para todo o trecho.

Rio Preto. Entardecer. Foto: Samuel F. Schwaida

Curiosidade: O Rio Preto tem sua nascente localizada no interior do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Correndo no sentido leste-oeste cortando o Parque, é a fronteira natural entre os municípios de Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante e depois, no sentido norte/noroeste, divide os municípios de Cavalcante e Colinas do Sul, até encontrar o Rio Maranhão, misturando-se às suas águas, que mais à frente são represadas no lago da Usina Hidrelétrica de Cana Brava. Dali seguem para o Norte, já como Rio Tocantins e de lá, misturadas a tantas outras águas, desaguam na foz do Tocantins, na Baía de Marajó. Mais de 1300 km, em linha reta, da nascente.

Após atravessar o rio, segue-se por mais 9 km por trilha histórica da época do garimpo, conhecida como “Fiandeiras”, cortando campos sujos e limpos. Após o km 10 você terá o visual de alguns morros da região à direita e posteriormente adentrará pelo cerrado rupestre até chegar à área de camping, onde há uma placa com instruções. A área fica ao lado do Rio Preto com água de boa qualidade e capacidade para 30 visitantes por noite. O banheiro seco localiza-se a 100 metros da área de camping. Não há energia elétrica, pia, lixeiras, papel higiênico, álcool em gel e outros produtos de higiene. Para lavar suas louças, colete água do rio e lave a pelo menos 50m da margem. Leve todo o lixo, orgânico e reciclável, com você. Atenção: há algum tempo alguns ratos nativos perderam o medo e a vergonha e começaram a frequentar o camping em busca de alimento. Não deixe comida no chão, sobre pedras, mesmo que dentro da mochila: você corre o risco de ficar sem comida e com um furo na mochila. Leve cordeletes e mosquetão para prender sacos de comida e mochilas nas árvores ou então pendure no teto da parte interna da barraca.

Área de camping. Foto: Samuel F. Schwaida

A cerca de 350m do camping estão as quedas, ótimas para coletar água, para banho e para descansar corpo e mente depois da caminhada. O ideal é chegar ao camping antes do pôr-do-sol com tempo de sobra para montar acampamento, desfrutar das cachoeiras e assistir o show de cores durante o sumiço do astro rei.

Entardecer. Foto: Samuel F. Schwaida
Entardecer. Foto: Samuel F. Schwaida
Foto: Samuel F. Schwaida

Segundo dia (Sete Quedas-GO 239 ; 6 km ; 3-4h)

A partir da área de acampamento, a trilha continua margeando o Rio Preto pelas pedras. Cerca de 150m acima das Sete Quedas, seguindo as setas laranjas, haverá um poste laranja de cada lado do rio, indicando o melhor ponto da segunda passagem do Rio Preto. Antes de deixar o rio, certifique-se de que tem água suficiente para o trecho final da travessia, pois não haverá mais pontos de água.

Quando o nível do Rio Preto está baixo é possível atravessá-lo por entre as pedras, de forma a não molhar os pés. Nesse caso é necessário atenção e cuidado para não escorregar. Bastões de caminhada são bastante úteis para facilitar a travessia. 

A trilha seguirá então por dentro do cerrado rupestre e após 2,5 km em ascensão chega ao Posto da Mata Funda, uma torre de observação de incêndios, utilizada pela Brigada de Incêndios Florestais do ICMBio. Por ser o ponto com melhor sinal de celular, por padrão é daqui que se faz a ligação para o seu prestador de serviço de transporte, informando que está terminando a trilha. A partir daqui a trilha segue pela estrada de serviço do Parque, brindando os olhos por quase 5 km com a paisagem campestre e os morros ao fundo, com destaque ao Morro do Buracão e o Morro da Baleia. Dependendo da época do ano, também é possível observar várias sempre-vivas espalhadas pelo campo. Sem dúvida um dos pontos mais altos da travessia. 

Morro da Baleia ao fundo. Foto: Samuel F. Schwaida
Trecho final da travessia, Morro do Buracão ao fundo (esquerda). Foto: Samuel F. Schwaida
Sempre-viva. Foto: Samuel F. Schwaida

Perto do final da travessia haverá um coletor semelhante a uma caixa de correio, onde você deverá depositar o cartão numerado entregue no centro de visitantes.

Final da travessia. Ao fundo os morros da Baleia (centro) e Buracão (direita). Foto: Samuel F. Schwaida
Resgate na beira da rodovia, na hora combinada com o camarada Diogo. Foto: Samuel F. Schwaida

Recomendações

  • Esta trilha está situada em ambiente sensível, em Unidade de Conservação. Respeite as regras do Parque.
  • É proibido fazer fogueiras e consumir bebidas alcoólicas e outras substâncias.
  • Não alimente animais, não colete nenhum tipo de material e deixe as caixinhas de som em casa. O som alto perturba a fauna e os demais trilheiros.
  • O pernoite é permitido somente no camping das Sete Quedas, onde existem espaços delimitados para montagem das barracas.
  • Não danifique, remova ou altere a sinalização.
  • Leve todo seu lixo, orgânico e inorgânico, de volta;
  • Para preservar a qualidade da água e do solo utilize sabonetes e detergentes biodegradáveis (ex: sabão de coco). Retire e guarde todos os resíduos de alimento de pratos e panelas e lave as louças a pelo menos 50m do rio.
  • As informações aqui contidas não são um incentivo a visitas desprogramadas ou despreparadas. Trata-se de rota de trekking em ambiente natural, sendo necessário conhecimento das técnicas, equipamentos e riscos envolvidos. Você é o principal responsável por sua própria segurança. Se não estiver preparado ou não se sentir seguro quanto sua capacidade de realizar a travessia, contrate um guia.
  • É comum que a sinalização se desgaste ou até mesmo desapareça com o tempo. Por segurança tenha o mapa impresso ou o tracklog da trilha carregado em seu Smartphone ou GPS.
  • Sempre informe alguém sobre seus planos, itinerário detalhado, composição do grupo e horário previsto de retorno. Tenha à mão os dados de cada integrante do seu grupo, incluindo tipo sanguíneo, informações sobre alergias e contato de emergência.

Contatos

  • Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros: 62 3455-1114
  • Alex (guia, transporte, camping em São Jorge): 62 999218238
  • Diogo – Casa da Sucupira (guia, transporte, pousada em São Jorge): 61 999596533
  • Centro de Atendimento ao Turista – CAT Alto Paraíso: 62 34461159
  • Samuel (aluguel de equipamentos em Brasília): 61 999338383

Checklist básico

  • Mochila cargueira (mínimo 45L)
  • Barraca
  • Saco de dormir com temperatura de conforto entre 10 e 12ºC
  • Isolante
  • Bota para trekking
  • Chinelo
  • Meia de trilha
  • Roupas leves para caminhada
  • Roupa de banho
  • Buff
  • Boné/chapéu
  • Óculos de sol
  • Protetor solar
  • Bastão de caminhada
  • Kit de primeiros socorros
  • Lanterna de cabeça com pilhas reserva
  • Reservatórios para 2 L de água
  • Smartphone com App de navegação e cópia do tracklog
  • Fogareiro e kit de cozinha
  • Alimentação para dois dias e uma noite
  • Papel higiênico
  • Dinheiro (Ingresso R$ 17,00; Transporte e guia a combinar)

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